Bastava
o toque
o tato
o afeto
o ato.
Mãos de outra temperatura
outro peso
outra textura
que toca
sem querer
nada em troca.
Bastava
o toque
o desejo
vontade
necessidade
urgência
carência
amor
pelo toque
do outro.
Pelas mãos
de um outro.
Mãos que não fossem as dela mesma.
Aí percebeu:
O toque
pelo simples toque
ninguém a daria.
Achariam estranho tocar.
– Só tocar?
Sentir
a pele
o peso
o ritmo
textura
temperatura
de outra pessoa
e só.
Afeto puro e simples ninguém ofereceria.
Precisou do sexo
da boca
da língua
saliva
pau
nuca
cabelo
pelos
tetas
buceta
umbigo
e todos os buracos do mundo.
Só pra ter afeto.
Só pra sentir o mundo.
O nome disso é solidão.
Engravidou da multidão.
Letícia Bassit
Trecho do livro “Mãe ou Eu também não gozei” – 2019
Sobre esta curadoria
Ter o privilégio de reunir poemas de mulheres falando sobre sexo, só reforça algo que sei, aqui, muito intrinsecamente: a chave da sexualidade está definitivamente em nossas mãos. Mas ao longo da história isso nos foi (tão) maldosamente roubado. Ou melhor, supostamente roubado! É impossível roubar algo que diz respeito à nossa própria natureza. Eles tentaram… e os danos são incalculáveis. Mas estamos aqui; com nossas bucetas cada vez mais molhadas e fervilhantes! Fogosas, libidinosas, indomáveis e deliciosamente taradas! Obrigada Carmem Faustino, Leticia Bassit, Natalia Barros, pela coragem, entrega e resistência.
E benditas sejam todas as bucetas do planeta.
Abhiyana