SINOPSE
Contato é um poema audiovisual sobre isolamento, intimidade, natureza e memória corporal durante a pandemia do covid-19. Gravado nas paisagens do sul da Califórnia, o filme abre questões sobre toque, conexão orgânica entre seres vivos e as múltiplas sensações advindas do encontro.
SYNOPSIS
Contact is an audiovisual poem about isolation, intimacy, nature, and body memory during the covid-19 pandemic. Recorded in the landscapes of Southern California, the film opens questions about touch, the organic connection between living beings, and the multiple sensations arising from the encounter.
POEMA
eu tô há meses num deserto.
quando eu cheguei aqui, as montanhas eram vermelhas,
secas, desabitadas.
agora verdes, ainda envolvem o silêncio em suas curvas.
e as pedras, de novo as pedras,
soltas na natureza,
selvagens.
têm um sentido sexual.
mas eu não espero por elas,
eu não aguardo ninguém.
somos eu, e as pedras.
a sublime sensação da minha pequenez,
e a morte, a morte que espreita
dentro das casas, dentro dos mercados,
circulando nas videoconferências,
a morte.
eu me rendo ao contágio.
eu desejo o vírus.
eu quero a doença sem cura,
a imunidade, o contato.
eu vou morrer nos seus braços.
vou chorar sua dor, até que eu não seja mais ninguém.
diluída na queda ininterrupta
da água que bate nas pedras,
que molha as pernas,
penetra nos cabelos,
alegra os humores,
e, sim, ainda nutre vida
mesmo após o fim do mundo.
meu apocalipse é o seu não.
você não vem comigo,
você não me dá toda a dor que eu preciso
pra sofrer, me perder,
espatifar no fim do abismo.
eu bebi o seu sangue, desenhei sobre seu corpo
com vermelho e vinho,
e você não espera nada.
você,
nada.
você,
choro.
cobre seu rosto com o edredom
e chora.
eu sei que você foge,
escorrega entre os meus dedos,
morre de medo de se perder em mim.
e então diz que não estamos lá
ainda,
nem acha que vamos estar.
POEM
I’ve been in a desert for months.
When I got here, the mountains were red,
dry, uninhabited.
Now green, they still hold silence in their curves.
And the rocks, again the rocks,
they are loose in nature, wild.
They have a sexual meaning.
But I don’t wait for them,
I don’t wait for anyone.
It’s just me, and the rocks.
The sublime sensation of my smallness,
and death. Death lurking
inside the houses, inside the grocery stores,
circulating within video calls.
Death.
I surrender to contagion.
I want the virus.
I want the disease without a cure,
the immunity, some contact.
I will die in your arms.
I will cry your pain until I am no one else.
I’m diluted in the uninterrupted fall,
I’m the water hitting the rocks, wetting the legs,
touching the hair, brightening the moods,
and yes, it still nourishes life
even after the end of the world.
My apocalypse happens when you say no…
you don’t come with me.
You don’t give me all the pain I need
to suffer, lose myself,
crash into the end of the abyss.
I drank your blood, drew it on your body
with red and wine,
and you don’t expect anything.
you, nothing
you, cry.
hide your face under the duvet
and cry.
I know you run away, you slip between my fingers,
terrified of getting lost on me.
and then you say that we are not there
yet,
nor do you think we’ll be.
CRÉDITOS
Texto: Andiara Ramos Pereira
Roteiro: Andiara Ramos Pereira (Dee Dee) e Toni Márquez
Produção: Toni Márquez
Direção: Andiara Ramos Pereira e Toni Márquez
Narração: Andiara Ramos Pereira
Montagem: Andiara Ramos Pereira
CREDITS
Text: Andiara Ramos Pereira
Script: Andiara Ramos Pereira (Dee Dee) e Toni Márquez
Production: Toni Márquez
Directed by: Andiara Ramos Pereira e Toni Márquez
Narration: Andiara Ramos Pereira
Edition: Andiara Ramos Pereira
Para assistir ou exibir o filme / To watch or screen the film:
andiara.deedee@hotmail.com